A Rússia, de uma economia de 2 biliões de euros em 2013 (escala longa, ou 2 triliões na escala curta) importa cerca de 9 mil milhões de euros em produtos alimentares. Menos de 0,5%. Alimentar o povo tem sido o calcanhar de Aquiles na Rússia. As estruturas russas de produção alimentar ainda são muito herdadas da URSS, pertencentes ao Estado, e muito pouco produtivas. Por exemplo, o trigo na Europa a 27 tem dado 2,7 t/ha, enquanto na Rússia este valor é 0,82 t/ha. Sim, menos de um terço.
A produção de alimentos na Rússia está a aumentar, apesar disso, fruto de alguma privatização das terras. O seguinte gráfico mostra um dos setores da produção alimentar russa, o frango, de 2010 a ao meio de 2013. Como vemos, a produção sobe consistentemente.
A produção de queijo atingiu as 450 milhões de toneladas em 2013, o maior valor registado de sempre. O leite que é consumido pelas casas e pelas indústrias russas vem em parte das quintas russas. Uma parte do que é importado vem da Bielorússia (cerca de 10%). A maior parte vem da Europa.
Falta o trigo. O próximo gráfico seguinte fala por si. Em 2014, esperam-se 99 milhões de toneladas.
A Rússia tem vindo a modernizar a sua agricultura, mas falta capital e trabalho. A crise do rublo na verdade vai ajudar a modernizar a agricultura. As maiores queixas dos agricultores russos é não poderem competir com os produtos europeus, altamente subsidiados, e à mercê de um rublo até há pouco sobrevalorizado. A cotação do rublo (neste momento perto de 66 RUB/USD) anulou essa vantagem. Um produto alimentar importado custa, para o consumidor interno, o dobro do que custava há alguns meses atrás.
A Primavera russa deverá ver uma excelente campanha de semeadura. Fala-se em gastar 4 mil milhões de dólares para colocar a agricultura russa na auto-suficiência. Se estes números não pecarem por otimismo, em menos de um ano se recuperam.
E, pelo fim da Primavera, os produtos russos começarão a chegar ao mercado a preços que os consumidores russos poderão pagar. E a crise alimentar estará passada, talvez para sempre. No fim de contas, talvez mesmo haja lugar a exportações russas para a Europa, à laia do rublo barato. O feitiço voltou-se contra o aprendiz de feiticeiro, pois o feiticeiro não tem muitos laços comerciais com a Rússia.
As sanções contra a Rússia não são muito eficazes a matar a Rússia. São no entanto excelentes a deprimir a Europa. É dano colateral ou é de propósito?
NOTA: se eu fosse Vladimir Putin, convidava os europeus que não querem estar mais na Europa anri-cristã a mudarem os seus trapinhos para terras russas. Duas vantagens: mais e diversos talentos, ainda mais de pessoas que não costumam andar a pôr bombas por aqui e ali; aproveitava para cultivar as terras que estão subaproveitadas, formar a mão de obra russa; e blindar a economia russa às veleidades do tipo apoiado pelo Partido Comunista dos Estados Unidos (vejam lá se não é verdade).
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