Velho mas lúcido, ao contrário do nosso pai da democracia, Michail Gorbachev avisa que, se a guerra estalar, pode dar em nuclear. Em entrevista ao Der Spiegel (com excertos publicados ontem), disse: Não não sobreviveremos nos próximos anos se alguém perder a cabeça nesta situação sobretensa. Isto não é algo que diga sem ponderação. Estou extremamente preocupado.
Entretanto, a Rússia prepara-se para uma guerra que não quer, mas que sabe que irá ser travada. A guerra, em boa verdade, já começou. A guerra do dólar contra o bloco Renmimbi-Rublo está no rublo... no rubro. Esta guerra é de tal forma importante para os Estados Unidos de Obama que eles a lutarão até ao último homem europeu.
Entretanto o rublo parece estar estacionado nos 62-63 rublos por dólar. Isso parece um golpe mortal para a economia russa, e certamente sê-lo-ia se a Rússia não tivesse comprado todo o ouro que podia nos últimos anos e diversificado algo da sua economia interna. Como já apontámos aqui, no Remoques, os russos prepararam-se para uma guerra financeira. Talvez não tivessem esperado que ela começasse tão cedo. Mas começou.
A primeira batalha fez o rublo recuar. A segunda batalha, o contra-ataque, é a substituição de todo o comércio externo sino-russo, que é quase sempre em dólares (pelas regras de Brenton Woods), por trocas em moedas locais. É bom para os países, que deixam de depender de uma terceira unidade monetária. Muitos países da Europa, aliás, já pagam em euros o gás russo. E este pagamento em euros está a dar calafrios a Washington.
Estimando-se que 90% dos dólares em circulação estejam fora dos Estados Unidos, a sua substituição nas trocas internacionais vai ser um golpe muito duro para o dólar. Quando as pessoas tiverem muitos dólares para gastar e os quiserem gastar à pressa, o que acontecerá à cotação do dólar?
O dólar, tal como a estátua do sonho de Nabuconodosor interpretado pelo profeta Daniel, tem pés de barro. Basta os russos colocarem a pedra a rolar da montanha e os Estados Unidos passarão um mau bocado. Porque ninguém lhes emprestará dinheiro num cenário de desvalorização cambial acentuada, ou mesmo de incerteza cambial. Como Portugal de Sócrates, o Estado Federal mantém défices recorde sob esta administração. Como irão eles buscar 1 trilhão de dólares (seis PIB anuais de Portugal, só para comparar) para pagar o seu próprio descoberto fiscal?
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