Não escondo que penso que temos de emagrecer o Estado antes que a carraça mate o cão. Temos de despedir funcionários. Não é agradável dizer a um tipo: tem de ir encher a sua gamela em algo que valha a pena e deixar de fazer parte do problema. Mas é o que tem de ser feito. O despedimento segue-se a um alargamento do Estado por pressões ideológicas e partidárias que são, a mínimo dizer, irrazoáveis. Em boa verdade, os despedimentos são uma cura desagradável a um problema acumulado.
Dito isto, caramba!, se querem despedir, ao menos despeçam quem mal trabalha ou quem muito atrapalha. E escrevo isto porque cada vez mais estou convencido que subestimamos a capacidade de o Estado dar tiros no pé. Reparem que não escrevo Governo, mas Estado, porque isto é um problema de regime, ou mesmo acima de todos os regimes. O Estado é um mau gestor porque as bestas que o gerem ou são idiotas ou estão a fazer um esforço sincero para nos convencer de que o são. E, não me apraz dizê-lo, se o caso for o último estão a consegui-lo plenamente.
Ao caso: o Tortosendo, vila do concelho da Covilhã, tem um infantário público, com lista de espera. A Segurança Social tentou-o privatizar, mas não teve sucesso: o caderno de encargos e as contas não batiam bem. Uma conhecida minha tentou pegar naquilo e percebeu no que se metia enquanto estudava o processo. Percebeu que quem o tomasse tomaria para si um monte de trabalhos com aquele caderno de encargos, na forma de uma hemorragia financeira.
Esgotada essa opção, a Segurança Social, através do seu instituto de gestão, resolveu, como se diz agora, emagrecê-lo. Não seria a minha primeira escolha de passagem à requalificação de funcionários, confesso. Para mim, o problema está em Lisboa, naquelas secretarias pejadas de gente a fazer pouco e a atrapalhar muito. Mas pronto!, algum passo foi dado, mesmo se incorreto.
Quem irão passar à requalificação? Há que haver critérios para escolher quem sai. E é aqui que o Estado mostra a sua chimpanzice no seu melhor. Depois de anos a fazer avaliação de funcionários, o critério de escolha é simples: sai quem tem menos anos de descontos. Reparem que não sai a pior funcionária, a que deu mais faltas ou a que é pior votada pelos clientes da casa, os pais das crianças. Sai quem teve o azar de nascer mais tarde. Coisa que, da última coisa que vi, pouco ou nada tem a ver com desempenho profissional.
E assim vai sair do infantário a melhor funcionária que, para seu azar, é também a mais nova. Apesar de ter tido excelentes na avaliação durante anos e de ser a mais considerada pelos pais e pelas crianças. Os pais, é claro, estão indignados e vão fazer um abaixo assinado para reverter a saída DESTA funcionária.
Eu não sei se o ministro da tutela justifica a matéria proteica que ostenta no espaço que medeia os seus pavilhões auriculares, nem sei se foi ele, alguém do seu ministério, algum diretor regional ou a diretora do infantário que escolheram esse tão conveniente critério. Sei que não fui eu. E que se fosse um dos pais com crianças lá estaria furibundo (diz-se indignado agora).
Fico por saber para que é que serviu afinal a avaliação de funcionários, tão propalada como necessária. Quando eu a fazia no setor privado, tinha exatamente o propósito de saber quem é que interessa à empresa e quem não interessa tanto, mesmo para estes casos desagradáveis. Se não querem utilizar a avaliação, não a façam, não gastem dinheiro a fazê-la, não gastem tempo e mais funcionários a avaliar outros funcionários, para no fim atirar as avaliações para o arquivo negro. Se querem avaliar, UTILIZEM A AVALIAÇÃO. Se não querem, ao menos sejam consequentes.
Se eu fosse o ministro, e não fosse o responsável pela criação do critério de passagem à requalificação, indagaria profundamente até encontrar quem o fosse. E depois, resolvendo várias questões de uma assentada, ou teria a carta de despedimento desse pedaço de asno na minha secretária em 24 horas ou passá-lo-ia à requalificação em 48.
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