A saída do Euro anda aí a ser propalada como a panaceia para todas as doenças económicas que temos. Eu, que não sou economista (apesar de ter tido notas a Microeconomia e Macroeconomia maiores do que as da maioria dos economistas desta praça), não posso concordar com tal dislate. O Euro é precisamente o que nos manteve em pé até hoje. Se saíssemos do Euro neste momento, empobrecer deixaria de ser uma palavra a discutir; passaria a ser uma fatalidade ineludível.
Ora, façamos um pequeno exercício. Cerca de 1/4 do que nós compramos são produtos energéticos. Estes produtos (petróleo e eletricidade) são cruciais para o funcionamento da nossa economia moderna. São-nos comparativamente mais baratos hoje a importar porque temos por cá o euro. A esses produtos somam-se os 4 mil milhões de euros de saldo importador de produtos agrícolas e outro tanto de outros bens de primeira necessidade. Se tivéssemos o Cascudo, ou o Novo Escudo, desvalorizado 1/3, a gasolina, as cenouras e o sabonete seriam comparativamente vez e meia mais cara para cada um de nós.
Há também que ver quais são as nossas exportações. Portugal exporta o segundo par de sapatos mais caro do mundo, na peugada da Itália. Para o comprador, mais ou menos um euro no sapato não faz diferença. Se o comprador quisesse sapatos baratos, comprava-os na China, a cerca de 1/5 do sapato português. Esta indústria não tem muito a ganhar com o fim do Euro. Afinal, o produto produzido é de margem, e a utilização do euro dá segurança ao comprador e beneficia a imagem do país.
Finalmente, uma das colunas no cômputo das exportações que se tem mais destacado é a de máquinas e equipamentos, a qual vale, imagine-se, um terço das exportações portuguesas. O produto máquinas e equipamentos leva muitos ativos energéticos (calor, eletricidade) na sua fabricação. Os ganhos em mão de obra interna por haver uma moeda desvalorizada são residuais. E, mais uma vez, é um produto de margem elevada.
Não me consta que Portugal tenha perdido exportações por causa da moeda ser forte precisamente nestes setores, onde a qualidade se paga e a margem é atrativa. Porquê então sair do Euro e acabar com a balança comercial positiva que temos? Acha alguém mesmo que iremos como país exportar muitos mais pares de sapatos se os pusermos um euro ou dois mais baratos, por passarmos a usar internamente o Cascudo?
As vantagens ganhas por uma data se setores de atividade dependentes da procura interna (restauração, construção civil, banca e seguros, comércio e restauração) serão obviadas por:
- o que teremos de pagar na bomba de gasolina e à companhia que nos fornecer os eletrões (33% a mais, comparativamente ao que nos custa hoje);
- o aumento comparativo em 30% da nossa dívida, assumindo 3% de crescimento económico no primeiro ano;
- o aumento de défice do Estado para 15% ou 20%, devido ao peso dos juros em euros contra a coleta em Cascudos;
- a diminuição relativa de produto interno em relação ao estrangeiro.
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