Avançar para o conteúdo principal

Da lei de limitação de mandatos autárquicos

Não consigo de modo algum estar de acordo com a famosa lei de limitação dos mandatos dos autarcas (a Lei nº 46/2005, de 29 de Agosto, a famosa lei «de/da»). Não me levem a mal, não é que deseje ver pessoas em cargos autárquicos que se iniciaram na Era Cretácea, e acho mesmo que a tal renovação de mandatos só melhora a democracia.

Contudo, para um tipo como eu, que vem da manutenção, existe um princípio que a tudo se sobrepõe: «equipamento que não falha não é mexido». De mim, que estou a pensar votar em branco nas próximas autárquicas na eleição para o presidente de câmara, e até defendo acerrimamente a limitação de quaisquer mandatos de deputados, de membros de governo («de» governo), pode-se pensar ser inconsistente. Não sou, e passo a explicar.

A diferença entre as duas eleições está na presença de movimentos independentes. Os membros dos movimentos independentes não são listados em partidos. Não têm a ascensão às listas sujeita à sua capacidade de manterem as suas mucosas orais junto do orifício anal de um qualquer oficial de partido. Não têm senão de se organizar, de apresentar a sua mensagem e de ser escolhidos pelos eleitores.

Lembro-me do que vociferaram os alistados em partidos pela hecatombe que seria a possibilidade de movimentos independentes concorrerem nas eleições locais. A hecatombe não veio, e há freguesias e municípios governados por tais movimentos. Ao contrário das disciplinas partidárias e mesmo trans-partidárias, os movimentos independentes não devem aliança senão a si próprios e aos seus eleitores. Por mim, os autarcas podiam ficar por mais de dez mandatos, se a vontade dos seus constituintes assim o desejar. Os autarcas vão a votos, são julgados, são conhecidos. E, com a possibilidade de qualquer cidadão, ou grupo de cidadãos, de formar uma lista e concorrer às eleições sem se ter de aliar às cartilhas existentes, não há razão para que o voto dos munícipes seja desconsiderado.

Por conseguinte, nas eleições autárquicas, o povo deve ser soberano. Se achar por bem lixar-se com um determinado presidente de câmara por muitos anos, pois que se vá lixar!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Juro jurando que juro que o que jurei se jurará esquecido.

Um primeiro ministro (ou primeiro-sinistro, já que todo o governo, com excepção do Siza Vieira, parece ser um acidente de percurso), jurou cumprir e fazer cumprir a Constutuição. O juramento faz parte da cerimónia de posse. E António Costa, licenciado em Direito (não acreditava, mas a Wikipédia diz que sim), passa o tempo a descumprir e fazer descumprir a Constituição. Eu nem gosto desta constituição particularmente, mas o juramento faz parte do acto de posse. Sendo violado, azar o dele, nulifica-se o acto. Precisamos de falar mais do "Diga a Constituição o que disser", e das blatantes violações no Estado de Calamidade e nas reacções à pandoideira. Há um caso sólido para o afastar do poder. Até porque o país não aguenta mais Costa. Eu posso-me dar ao luxo de dar às de Vila Diogo e ir trabalhar noutro lado. Mas isso não acontecerá a dez milhões de portugueses, cujas vidas foram destruídas pelo primeiro confinamento, quando tudo indicava qu...

Partido libertário em Portugal?

Partido Libertário Português Ao que parece, alguém criou um tal Partido Libertário Português. Estava à procura de partidos libertários na Europa quando dei com isto. Parece ser criação recente e, além da tralha no Livro das Fuças , não parece ser dotado ainda de personalidade jurídica. Não escondo que se fosse britânico o UKIP teria o meu voto; mas nunca, sendo francês, votaria na Frente Nacional. A Frente Nacional é estatista e tão neo-totalitária como os comunistas. Nada de bom advirá dela. O UKIP, por seu turno, é liberal e, como eu, defende um estado pequeno. Esta entrada num dos blogues do The Spectator diz tudo: a Frente Nacional é estatista, o UKIP libertário. Termino com um vídeo de Nigel Farage, o eurodeputado estrela do UKIP onde acusa consubstanciadamente da União Europeia de ser o novo comunismo. Com carradas de razão.

Morra aos 70. Não fica cá a fazer nada. Dizem os democrápulas.

Um sistema público e universal de pensões e de saúde mais cedo ou mais tarde terá de dar nisto: na limitação de vida das pessoas.  O que os democrápulas americanos chamam «aconselhamento de fim de vida» é mesmo isso: aconselhar as pessoas que já estão a tornar-se um peso no sistema (e que tendem a ter juízo e a votar conservador) a abdicar da sua vida e a deixarem-se matar. Que ideia exagerada, painéis de morte! Não há nenhum sistema público de saúde ou de pensões que não venha a ser arrebentado por dentro pelo hábito persistente de as pessoas se deixarem viver mais anos na vã esperança de que os seus netos se resolvam a sair da casa dos pais e a constituir família antes do aparecimento das primeiras rugas neles. Como as mulheres portuguesas não querem ter filhos (e não me venham com essa do não podem ou do teriam se...), o sistema de segurança social teria cinco anos a funcionar.  Teria se a guerra não viesse entretanto, como estou convencido de que virá. No fundo i...