Oposição, precisa-se. Mas com cabeça.
Rui Rio irá ser conhecido como um verdadeiro mestre do xadrez ou como um imbecil. Tudo depende de como findará a novela de não oposição ao Governo.
Quem faria pouca oposição a um governo completamete destrambelhado e desgovernador? Que soma escândalos, como os de Tancos, dos incêndios de Pedrógão e de Oliveira do Hospital, do SIRESP, das cativações na saúde, das nacionalizações perdulárias? Quem sabe que o tempo joga a seu favor. Convenhamos que a imprensa dará sempre um passe a António Costa. A reacção de António Costa a Pedrógão (convocar um Focus Group para saber o impacte da popularidade dos incêndios no PS) seria, em qualquer país que o fosse a sério, um motivo de saída pela porta traseira e o fim de uma carreira política. O pulha (que outros nomes tem, mas são mais contundentes) apenas pensava nele próprio enquanto sessenta e quatro pessoas — muito provavelmente mais — haviam perdido a vida, queimadas vivas num inferno terminal. Não houve um esgar de arrependimento da parte desse primeiro-sinistro (grafia intencional!). A Ministra da Administração Interna fez o acto teatral de chorar, mas só convenceu quem já estaria convencido por qualquer aventesma do Partido Socialista. Com a imprensa a servir de Pravda ao Governo, nem o escândalo dos donativos dos portugueses terem sido apropriados pelo Estado e usados para construir segundas habitações de socialistas que viviam em Lisboa é escândalo.
Os exemplos abundam. Veja-se a diferença de tratamento quando Passos Coelho sugeriu a emigração aos jovens sem trabalho — foi insensado — e quando Costa sugeriu a mesma coisa para os professores de português que se encontrassem sem emprego. Com esta imprensa, Rui Rio sabe que o jogo está encasinado. Não há escrutínio ao Estado e ao Governo, o papel mais precioso da imprensa. Há propaganda e branqueamento.
Mas a realidade pode ser uma cabra. E consta que Costa anda assustado. Assustado porque a economia vai cair muito mais de 10% num ano. Concentrados os prejuízos em quem não é funcionário público. Muitas empresas que fecharam não voltarão a abrir. Costa conta com dinheiro da Europa, e vai ter de piar mansinho. Porque tradicionalmente, em momentos destes, os nacionalismos recrudescem. Talvez a dita solidariedade europeia não venha a acontecer. Porque os políticos alemães são escrutinados pelos contribuintes alemães. E estes não irão em cantigas.
Os rios desaguam na foz. Todos eles.
Se Rui Rio acha que o tempo está a seu favor, está absolutamente certo. Portugal vive na corda bamba do Banco Central Europeu. Se estalam os fios da corda, partem-se as lingas e cai o equilibrista, sem qualquer rede de protecção.
Se estou certo, Rui Rio sabe que Costa está por um fio. Partindo-se esse fio, Portugal acaba na bancarrota. Outra vez. A quarta desde 1975, e todas com selo PS. E, nesse dia, Costa não poderá queixar-se da oposição. Pelo menos do PSD. Vai o Costa queixar-se da Iniciativa Liberal, do Chega e do CDS? Juntos somam sete deputados! Sete em duzentos e trinta. Nesse dia, Rio terá ganho. Costa terá de admitir a derrota. O país saberá quem é António Costa, e quanto talento ele tem para tudo o que transcenda a intriga palaciana.
Nesse dia, o país chamado Portugal, eterno sebastianista, clamará por Rui Rio. Eu preferiria Passos Coelho, que tem cartas dadas. mas Rui Rio também as tem na Câmara Municipal do Porto. Rui Rio deixou 99 milhões de dívida quando saíu, de 200 milhões quando entrou, e uma câmara a pagar em seis dias. Em Lisboa, Costa necessitava de mais uma injecção de dinheiro do Estado Central (pela compa dos terrenos do Aeroporto da Portela à Câmara Municipal de Lisboa), e mesmo assim a dívida atingia os mil milhões de euros.
Se o objectivo de Rui Rio é chegar a primeiro-ministro nadando contra uma imprensa desfavorável, não interrompendo o Governo quando está a cometer erros sobre erros, o homem é um génio! A sério. Nunca pensei dizer isso sobre ele nestes meses. Mas pensar um pouco ajuda. Rui Rio, ao contrário de António Costa, quando abre a boca sabemos logo que existe vida inteligente em Portugal. Talvez Rui Rio queira manter uma imprensa favorável para, quando chegar o momento de atacar, o faça de sopetão e com estrépito e estrondo. Depois de a situação se mostrar insustentável. Finanças de Leão, saída de Centeno.
Se não é esse o objectivo, então o homem é um verdadeiro imbecil. E isso, perdoem-me, custa-me a acreditar.
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