MOTE:
Há um número que te descreve.
Procurei-o com fervor,
Para te dar um valor
A quem nunca ninguém negue.
GLOSA:
Numa noite sorumbática,
Achei-me em dissabor
Por não te poder dar valor
Com certeza matemática.
Procurei uma grandeza
Que pudesse com certeza
E com pouca imprecisão
Dar número à tua beleza
E à minha admiração.
Procurei-o deslumbrado
E eis o que consegui.
Carrego em mim o pecado
Se não ser mais afincado
Pelo bem que em ti vi.
Procurei no número pi,
Razão do raio à circunferência.
Na metade da valência
Procurei colá-lo a ti.
Pesando a simetria
De seres círculo infinito
Com centro indefinido,
Não era o que eu queria.
Três, catorze e um bocado
Não é teu número perfeito.
Pesando que é presente
No que tenho calculado,
Procurarei noutro lado
Número que te assente.
Considerei então o e,
Dois vírgula setenta e dois.
Mas vi eu logo depois
Que dava um tiro no pé.
Apesar de serial,
Tendendo para o infinito,
Seria um mal desdito
Negar o exponencial:
A zero então tenderia,
E tu zero não serás.
Penso que perdoarás
Que eu quase tão mal teria
A ti desconsiderado.
Outros números percorri:
A constante de Avogrado,
O número utilizado
Na química que aprendi.
Considerei da astronomia
A constante universal.
Pensei que te descrevia.
Pois pensava muito mal.
És mais que o universo
Pois és dele a razão.
Sem ti toda a criação
Passa a ser um reverso,
Um acaso e um senão.
Finalmente encontrei
O número que pretendia,
O tal que te descrevia
Ao melhor do que eu sei.
Este número, na verdade
É um número bem inteiro,
E de todos o primeiro:
A inteira unidade.
Ordinal do vencedor,
Primaz do cálculo maior,
Não encontro outro melhor
Para te dar real valor.
Os chinos sabem-no bem.
Quando querem sublimar,
Grandemente elogiar,
Utilizam-no também.
Este número é o um,
O único que não tem par.
O que vou considerar,
O que em ti assenta bem.
Sendo uma, não divides.
Sendo uma, não tens par,
Só em ti posso esperar
Ser feliz na minha vida.
Como és uma, és a primeira,
É assim como te descrevo.
E este poema escrevo
Como prova derradeira
Do valor que em ti vejo.
É agora o meu desejo
Passar-te o desafio:
Pois se eu sou a nascente
Tu és a foz do meu rio.
Escreve o que desejares
E responde ao que escrevi.
Sabes que pelo que li,
Devoro o que enviares.
NOTA: Todos os autores têm uma obra de que gostam mais do que as outras. Esta é a minha magnus opus, na minha opinião. Para minha miséria, sou o único a escolhê-la. Toda a gente selecciona outra entre aquilo que escrevi.
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