Quando nos dão alguma coisa de graça, desconfia-se do negócio.
Os subsídios foram a pior parte do negócio. Digo isto sem problemas, mesmo sabendo que vou ter umas bocas abertas de incredulidade da parte dos meus leitores. Os subsídios distorceram a nossa economia, tornando-a desnecessariamente ineficiente. Foram um mau negócio. E embora não possa elencar todas as razões para essa provocação indico algumas:
- Desconstrução civil e obras impúdicas a 10% do PIB.
- Parques não-industriais comprados a 1 escudo por metro quadrado pelos amigos do despresidente da câmara e posto à venda nessa mesma tarde a cem vezes mais em imobiliárias.
- Rotundas e rotundinhas, com a ubíqua desculpa de que se tem de aproveitar os fundos comunitários. Nalgumas há estátuas de mau gosto da autoria da prima da vizinha do irmão do presidente de câmara.
- Centros de congresso, auditórios e salas, invariavelmente subutilizadas (para usar o enfermismo eufemístico). E sempre nomeadas in causa propria e em nome próprio pelo despresidente de câmara ou de junta de freguesia que aproveitou os tais fundos comunitários.
- Estradas de nenhures para lado nenhum, porque se tinha de aproveitar os fundos comunitários e apenas por isso.
- Formação não-ministrada, desadequada ou simplesmente fraudulenta, porque se tinha de aproveitar os fundos comunitários, sendo que formar a mão de obra não era um objetivo. Ou isso ou falhou rotundamente.
- Um hospital concreto com uma máquina de TAC de cento e cinquental mil contos que existiu e eu vi e cheguei a tentar arrancar, comprada porque havia que aproveitar fundos comunitários, e encaixotada porque não havia no momento fundos disponíveis para levar uma pessoa em formação à Alemanha (mil e quinhentos contos no total).
- Legislação tão estúpida que faz dó, exarada pelos incumbentes para se proteger dos insurgentes. É por isso que continuamos a ter quatro canais de televisão em sinal aberto e que certas empresas fecham ou fogem de Portugal.
- Crescimento desmesurado do Estado, que estamos a pagar todos os anos em défice;
- Crescimento desmesurado da dívida, por causa da comparticipação nacional. Que estamos a pagar e pagaremos no futuro até ao tempo dos nossos netos;
- (E esta eu conheço bem) Emperresários que não perguntam «há mercado?» mas «há subsídios?». E que não fazem investimento algum, por mais pertinente que seja, se não houver «subsídios» [repare que ninguém lhe chama «apoios»]. Mesmo que sejam maus investimentos, fazem-se, desde que haja subsídios para eles, e muitas empresas foram ao charco por isso.
- Não há crédito bancário para empresários que não tenham apoios europeus. Os apoios servem, na prática, para os bancos minorarem as perdas de liquidação da empresa em caso de falha. É claro que assim só arrancam empresas para as quais há subsídios disponíveis, mesmo se sem mercados e condenadas a falhar.
- E, pior que tudo, demasiado dinheiro nas mãos de políticos para distribuir pelos programas que os seus financiadores e amigos sugerem.
Correcções a fazer: diga-se a Bruxelas que subsidie ou apoie outras economias, recusando o presente envenenado. E troque-se os ditos apoios por quota zero, para nao apoiar mais o Parrelamento Ôropeu e as viagens de turismo em executiva dos nossos turbopolíticos.
Um veneno que se nos dá de graça ainda assim é um veneno.
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