
Muito se tem falado de Vladimir Putin. Putin não é nenhum diabo, nem certamente nenhum monstro. Bem piores são os europeus e a União Europeia. Dito isto, também não é nenhum salvador da Europa. Porque não quer. E, se tentasse, falharia em sê-lo.
Nos dias que correm-se em Moscovo, fala-se muito da Terceira Roma. A Terceira Roma, identificada nos Contos dos Príncipes Vladimor (Сказание о князьях Владимирских), uma obra literária do início do Sec. XVI, escrita por monges búlgaros expulsos pelo invasor Otomano, e que procuraram refúgio nas terras de Moscóvia (nesses dias ainda não se falava propriamente em Rússia como hoje).
Nesse livro, identifica-se Moscóvia (o grão-ducado, não a cidade) como a terceira capital do Império Romano, depois de Roma e de Constantinopla. Dizem os monges que a primeira e a segunda Roma caíram, mas não haverá quarta. à boa maneira do tempo, inventaram um tal Prus, sobrinho do Imperador Augusto, a quem teria sido dado o Norte do Mundo, chamado Prússia. Aquilo que se chamou a transferência do Império (transferio imperii).
A história, claramente apócrifa, conquistou o imaginário dos moscovitas. Este papel escatológico de Moscovo, juntamente com a propaganda anti-ocidental que por lá corre nestes dias, prepara a opinião pública para a guerra. O livro Estratégia Militar Soviética, de Sokolovski, o texto clássico utilizado no ensino militar por aquelas bandas diz:
A vitoria na guerra é impensável sem a preparação atempada e cuidada do país e das forças armadas.
(E. M. S., cap. 7)
E, sobre a preparação, mais à frente no mesmo capítulo:
A preparação política da moral popular é de crucial importância (...) já que o uso de armas de destruição maciça numa guerra impõe custos inusitados e excecionalmente altos no moral político de uma população. (...) O ódio ao inimigo deverá excitar o desejo de destruir as forças armadas e o potencial militar-industrial do agressor, e de atingir a vitória completa numa guerra justa.
Querem conhecer Putin? Estudem César. César, ao invadir a Gália, estava numa guerra de defesa (ah! os malvados gauleses). Quando atravessou o Rubicão, já de Norte para Sul, fez tábua rasa da lei para salvar Roma. E foi aclamado pela populaça.
Quando Putin invade a Ucrânia (poupem-me as desculpas), está a defender russos. Quando a Rússia invadir a Europa, daqui a uns anos, estará a salvá-la de si mesma. [Bem precisa de ser salva, só espero que o salvador não seja pior que o que vai salvar. Não esperem de mim o papel de Vercingetórix ou de Carátaco. Não morro de amores pela União Europeia. Se a Rússia não for pior, e não parece ser no momento, bem vindos sejam!]
A partir destas eleições, prevejo que os escândalos que incidem sobre a burocracia europeia e sobre os parlamentares serão quase diários. Capítulo 7, Estratégia Militar Soviética.
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