Por causa de uns argumentos de Lucas Galuxo neste artigo d'O Insurgente fui tirar à Pordata uns gráficos e tratei-os.
O primeiro mostra como se portou a dívida e o PIB entre 2000 e 2012. A zona rosa é a governação (ou desgoverno) de José Sócrates. Neste intervalo, o PIB subiu até quase aos 180 mil milhões de euros, mas depois regrediu. A dívida é que não deixou de aumentar. A dívida subiu quase 80 mil milhões de euros e o PIB ficou-se, do início ao fim, por um aumento de menos de 10 mil milhões de euros. Cada euro de aumento de dívida deu um aumento de PIB de 12,5 cêntimos.
O segundo gráfico mostra o rácio aumento de PIB contra aumento de dívida. A linha
A eficácia da dívida no PIB tem vindo a descer desde 2000, consistentemente. Se virem bem o gráfico, o tempo de reação da economia portuguesa é estabelecido em 2 anos. Um engenheiro responde àquilo que muitos economistas palavreiros não respondem. Como é que sei? Reparem nas flutuações da linha verde e nos reportes em atraso de dois anos das caixas (os rácios).
Há uma anomalia. Os anos de 2006 e 2007. Caramba!, parece que o troca Tintas Quarenta e Quatro até sabia governar. Será que sabia?
Quando geria empresas, a pergunta mais importante não é «o quê». É «porquê». O quê é patente. Porquê exige perceber o que aconteceu. O que aconteceu em 2006 e 2007 que teve tanta repercussão no PIB de Portugal?
Para já, havia o atraso do efeito aumento da dívida em 2004. Está no gráfico, e tem os tais dois anos de avanço. Mas isso não explica tudo. Há qualquer coisa mais, e que não depende da dívida.
Em 2006 e 2007 construíam-se auto-estradas e estradas por todo o lado neste país. Nos Açores, no Algarve, a A17, a A24, partes da A25, o IC6 e tantas outras que não foram pagas por dívida pública. Porque o Estado não as pagou então, mas o PIB foi inflacionado por dinheiro disponibilizado às construtoras via banca — o que corresponde a uma desorçamentação na prática. São estes consumos de 2006 e 2007 que começámos a pagar em força em 2013 e que nos próximos três anos cairão a doer. Serão dois mil milhões de euros por ano de obras que não foram pagas na altura e que levaremos décadas a pagar. SCUT, Parque Escolar e Estradas de Portugal. O trinómio da desgraça. Portugal era uma festa, mas poucos se lembraram que alguém teria de arrumar a casa depois de os convidados saírem.
Só o contrato da construção da A17 foram seiscentos milhões de euros. Facilmente temos 5% do PIB na construção de tantas auto-estadas, estradas, hospitais e de um aeroporto em Beja que estava então em construção — 33 milhões de euros mais despesas de manutenção para o lixo só nessa quimera. O efeito positivo para o PIB esgotou-se na construção e hoje temos efeitos negativos de 1) pagamentos aos concessionários ou 2) despesas de manutenção e operação.
Sócrates não foi um bom governante. Foi um péssimo governante. Foi um desgoverno que estamos a pagar em juros de dívida, amortizações de dívida e compromissos para com os amigos do partido socialista. Sócrates hipotecou a minha geração, a dos meus filhos e a dos meus netos. E, mesmo não havendo pago as SCUT no momento, quase duplicou a dívida. O meu filho, que em breve se iniciará no mundo laboral, pagará toda a sua vida os desmandos de Sócrates e de Guterres. As auto-estradas onde se ouve cair um alfinete são testemunho de que os números devem ser criticados.
Por isso, Lucas Galuxo, da próxima vez que pensar em usar os números do Troca-Tintas para elogiar o campo de minas que foi a desgovernação desses dias, peço-lhe que pondere o conceito de «investimento reprodutivo». Há onde a construção tenha empolado as economias como aconteceu em Portugal. Em Espanha, na China e em outros países existem cidades fantasma. Tão fantasmas como o aeroporto de Beja e a A13.
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