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Restruturar? Não, obrigado!

Um pedinte honesto. Ao menos este diz ao que vem.

Comece-se a falar de manifestos para restruturar a dívida e vão ver o que vai acontecer.

Mas a dívida não é má?

É, sim senhor. Como qualquer dívida, é um baraço. Parte dos nossos rendimentos é desviada para pagar juros de dinheiro que pedimos emprestados, que foi gasto e que já provavelmente não sabemos onde ele anda.

Mas a dívida afinal não é coisa de políticos corruptos?

A grande parte da dívida foi para pagar coisas que o Estado nunca deveria ter feito. E não me refiro às PPP, porque a maior parte delas só agora começa a ser paga. Refiro-me a salvamento de bancos, a manutenção de privilégios em empresas públicas, na vigésima sexta renovação da rotunda pela Câmara Municipal de Lado Algum ou pela manutenção de um esquema de subsídios à indolência e de rendimentos mínimos garantidos. E, é claro, pela manutenção de um corpo de funcionários públicos que, de excessivo, a maioria não trabalha tanto quanto no privado (e uma minoria trabalha tanto ou mais, mas é uma minoria).

Então restruturar a dívida não faz parte de boa gestão?

Depende do lado onde estiver. Os credores não pensam assim. Posso acreditar que se discutirem o tal manifesto do calote demasiadamente e lhe derem atenção que nunca deveria ter, a próxima ida aos mercados vai ser um fracasso.

E o que é que implica esse fracasso no acesso aos mercados?

No imediato, nada. Mas as reservas de dinheiro do Estado Português não duram para sempre, dado o défice constante nas contas. O Estado gasta mais do que aquilo que consegue expoliar dos cidadãos, e por isso vai sempre precisar de dinheiro fresco. De fora, já que o privado dá o que pode e, por vezes, o que não tem.

A seis meses, significa que alguém fica a arder. Ou são os fornecedores, ou os pensionistas ou os funcionários do Estado. Ou os três ao mesmo tempo. Os fornecedores já andam a receber quando o rei faz anos. Imaginem os pensionistas ou os funcionários a receber a seis meses.

Então porque é que não saímos do Euro? Imprime-se mais dinheiro e paga-se.

Se sair do Euro, a nova moeda será desvalorizada pelo menos 30%. O mais certo é ficar pela metade do valor. Isto é, mil cascudos ficariam a valer o que hoje valem quinhentos euros. Quem recebe mil cascudos, receberia na prática metade.

Ora, a sua dívida da casa para com o banco é em euros, não em cascudos. Na nova moeda, seria certamente revalorizada. Se gasta hoje 400 euros no pagamento da casa, passaria a gastar 800 cascudos. Com um salário de mil cascudos, conseguiria manter-se com duzentos durante um mês inteiro?

Que solução é que há?

Continuar a fazer o que se está a fazer, pois a economia está a melhorar. Devagarinho, mas está. O desemprego anda a cair há quase um ano, e tenderá a cair ainda mais à medida que a atividade económica recupera e o país se reposiciona para as exportações. Portugal está na verdade solvente: já exportamos mais do que importamos e já recebemos mais dinheiro de fora do que aquele que sai do país. O Estado é que é insolvente.

Como cidadão pode fazer muito. Pare de dar o voto a partidos que desgovernam o país em democracia 8PS, PSD e CDS), e não o dê a quem o quer desgovernar em ditadura (refiro-me ao PCP e ao BE). Escolha deputados liberais, que queiram menos estado na economia e mais iniciativa privada. O Estado é parte do problema, e não é por conseguinte a solução.

Vote e apele ao voto em quem queira menos regulações inúteis, menos caça à multa, menos impostos e menos proteção social — coisa muito boa para quem quer essencialmente viver à custa do sustento dos outros que trabalham. Apoie quem quer menos obras públicas, menos estradas novas e menos rotundas renovadas, pois os conluios entre políticos e empereiteiros fizeram a mossa que fizeram nas nossas contas públicas. Vote em quem promete extinguir serviços inúteis e despedir funcionários públicos onde estes não são precisos, em diminuir o número de freguesias (ou mesmo extinguir as freguesias, que na era do automóvel são completamente espúrias). No fundo, vote em quem vá fazer um estado sustentável e activo, em vez de uma pocilga de interesses onde emperresários e porralíticos se unem para fazer coisas com o NOSSO dinheiro, sem que sejamos verdadeiramente tidos ou achados nas minudências do poder.

E o diabo esconde-se nas minudências.

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