Seja no Verão ou no Inverno, a pizza napolitana tradicional cria-nos água na boca. Em Itália, a sua pátria, é servida tradicionalmente em madeira. Estes tabuleiros por vezes têm décadas e estão gastos. Têm riscos, provenientes de sofrerem a lâmina da faca quando se corta a pizza. É normal. Ninguém se importa. De certeza, uma ou outra partícula de serradura solta pela faca foi na pizza para a boca do que dela desfrutava. Não há registo histórico de alguma queixa ou problema daí advindo. O prazer de ter a pizza, suculenta, numa explosão de sabores tocando a nossa língua faz-nos pensar em tudo menos em serradura. Eu, com quarenta e três anos de vida, nunca havia pensado nisso. E recuso liminarmente que me sirvam a pizza em cartão na mesa. A pizza vem em madeira ou não vem.
Em Portugal achamos que as leis têm que resolver mesmo os problemas que não existem. Se não existirem problemas, cria-se uma lei para reconhecer alguns em potencial. E resolvê-los. Porque estes italianos, alemães e franceses são todos uns javardos terceiro-mundistas. Esses países para os nossos legisladores são tão sabujos que ao simples olhar para um mapa ou a bandeira deles tem que se seguir uma limpeza com solução isotónica (certificada, é claro!) aos olhos.
Se Portugal fosse o dono de um carro, estaria sempre a mexer no motor, mesmo que este não tivesse problema nenhum. Os nossos legisladores merecem a categoria de bestas quadradas e um bom par de lambadas, com requinte, força e pancada seca. E pelo seguinte se prova.
Uma pizzaria pode em Portugal servir em madeira, desde que o tabuleiro não contenha nenhum risco. Ora digam-me lá como é que se consegue manter os tabuleiros incólomes quando as pizzas são cortadas pelos clientes esse tabuleiro. Pior, digam-me porque é que em Itália o tabuleiro em qe se serve a pizza tem riscos e ninguém se importa. E isso aliás é um bom indicador da idade e da experiência da pizzaria. Pizzaria que se preze tem os tabuleiros como a tábua onde eu corto o pão em minha casa. Em Portugal, contudo, isso deu uma multa de 8.600 euros a uma pizzaria da minha região. Sim, oito mil e seiscentos euros. Para os portugueses, graças à benevolência do nosso legislador (caso a besta não perceba, estou a ser sarcástico!) ou vem sobre aço inox ou em cartão.
Essa de deixarem vir em cartão... sei lá eu o que colocam no cartão.
Nota para o legislador: Pare de interferir com a MINHA vida. Se eu quiser comer num estabelecimento qualquer onde vá a pizza em madeira, O PROBLEMA É MEU. NÃO SEU. Não lhe passei procuração para me proteger daquilo que eu posso fazer por mim mesmo. Numa boa expressão, VÁ BUGIAR.
Nota para a ASAE, a ACT e os seus agentes: parem de fazer crimes económicos. Sim, crimes económicos. Parem de enforçar leis estúpidas. Mais do que uma empresa fechou ou vai fechar porque os empresários não estão para vos aturar. Se a pizzaria tem baratas na cozinha, fechem-na. Agora, por causa da cor dos mosaicos na casa de banho ou os tabuleiros da pizza, esqueçam que a lei existe. Agentes, façam tábua rasa do que é estúpido ou suicidem-se. Qualquer das duas atitudes fará mais pela economia portuguesa do que todos os bem-intencionados discursos e iniciativas legislativas.
O Estado é parte do problema. É o principal problema.
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