O nosso problema não está na nossa moeda, está no nosso Estado. Temos Estado a mais. Temos funcionários a mais, burrocratas a mais à espera de um tacho no privado, plutocratas infindos, beneficiários do rendimento mínimo e do rendimento máximo que acham que têm direito à substância do outro, emperresários gulosos pelos dinheiros públicos e uma banca que facilita tudo isto, claro que a juros. A banca adora o Estado, mancomuna-se com os políticos que querem deixar obra e com os emperreiteiros que querem vender quinquilharias e cimento. Este é o problema da economia portuguesa. Bem pior seria se não estivéssemos no Euro e tivéssemos de arcar com juros de dez, doze ou quinze por cento para colocar mais dívida à la Mr. Seguro nos ma-le-di-tos mercados.
Em suma, o Euro é um verdadeiro benefício. Falta apenas acabar com as obras que ninguém parece querer excepto o político que nela coloca o seu nome, a banca que avança com o dinheiro e cobra juros e o emperresário que quer cobrar uns cobres a peso de ouro. Assim nasce o Auditório Dr. Couro de Burro, a Piscina Dr. Couro de Burro e o edifício da Junta de Freguesia Dr. Couro de Burro na mesma localidade. O Dr. Couro de Burro não tem dinheiro nem o sabe ganhar. Isso de ganhar dinheiro é ocupação para broncos empresários (dos honestos) e bestas de carga. O Dr. Couro de Burro tira aos empresários e aos empregados o dinheiro para manter as obras dermo-asininas por este país afora.
Piorando o que já é mau, o Dr. Couro de Burro não se coíbe de dizer aos empresários (distingo dos emperresários e dos emperreiteiros) como devem gerir o seu negócio. Nem reconhece ou valoriza o facto de que a coisa pública, gerida pelo Dr. Couro de Burro, está um desastre autêntico. Se o José Labuta, empresário, quer montar uma oficina para cortar mármores, tem no mínimo trinta licenças a conseguir, numa gesta hercúlea, a cada uma das quais os Dr. Couro de Burro pôs um preço e um tempo de espera que raramente cumpre. O Sr. Labuta já teve de pagar o terreno para que fosse seu, comprar os materiais e a mão de obra para construir, e ainda assim tem de pagar ao Sr. Couro de Burro (e esperar meses ou anos) para que lhe deixe fazer algo de produtivo daquilo que já é seu.
Ainda assim, o Sr. Labuta não está a salvo do Couro de Burro. Irá ter de lhe pagar impostos estipêndios (adjectivação e nominação intencionais!) para quem pouco ou nada faz de produtivo, e que ainda gasta parte desse dinheiro a perroteger e perromover emperresários amigos do Dr. Couro de Burro.
Se por acaso o Sr. Labuta resolver dar com a boca no trombone e dizer publicamente o que acha do Dr. Couro de Burro, este manda-lhe os fiscais das finanças e da ASAE aborrecê-lo logo no dia seguinte. Já vi isto feito a tantos empresários que reconheço aqui uma prática perversa. No pensamento do Dr. Couro de Burro, o país existe unicamente para simples usufruto do Sr. Couro de Burro, a suprema carraça nacional.
Aqui está o problema. Pagá-lo-emos em escudos ou em euros.
Este artigo foi ligeiramente adaptado de um comentário meu a este excelente artigo n'O Insurgente. Vejam também esta excelente análise do Mário Amorim Lopes.
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